1.12.02

Dia de Gibi Novo: O Quiosque da Utopia

Volta e meia, me sinto meio envergonhado por conhecer tão pouco os quadrinhos europeus modernos. Parte do desconhecimento vem da dificuldade que é achar esses álbuns (e o preço absurdo quando encontro algum). A outra parte é o desinteresse no tipo de quadrinhos que os europeus parecem ter se especializado. Arte magnífica e roteiros ridículos parecem ter se tornado o estilo do continente - basta pegar qualquer ediçãod a Metal Hurland para conferir. Claro que existem exceções e O Quiosque da Utopia é uma delas.

O volume, escrito e desenhado pelo português José Carlos Fernandes, coleciona trinta e duas vinhetas de duas páginas, cada uma mostrando um personagem ou situação fantástica. Isoladamente, cada uma delas é muito interessante. Juntas, elas formam um panorâma na vida de uma cidade estranha, em algum lugar da Europa.

As vinhetas não formam propriamente uma história, apesar de alguns personagens se repetirem aqui e ali, deixando a impressão que há algo mais a saber sobre eles do que o mostrado. Há, em todo o livro, elementos que lembram a obra de Borges (que inclusive faz aparições especiais, como chefe da biblioteca e dos correios): um homem que coleciona coincidências, um quiosque onde os cidadãos sugerem utopias, um arquólogo dos corpos humanos, quartos que guardam os sonhos de quem dormiu neles...

Além de Borges, há ecos de Calvino, Kafka e teorias conspiratórias. O desenho lembra um tanto o de Ben Katchor, que aparece com Georges Perec como uma das influências reconhecidas do livro.